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quarta-feira, 11 de agosto de 2010

NOTÍCIA: Acupuntura protege o fígado do efeito de medicamentos

Por Valéria Dias, valdias@usp.br

Fonte: Agência USP de Notícias

A acupuntura é uma boa alternativa para controlar os danos ao fígado causados pelo uso contínuo de alguns medicamentos. A constatação é do médico veterinário e acupunturista Alexandro dos Santos Rodrigues em sua tese de doutorado pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP. O trabalho investigou a influência da técnica milenar chinesa no controle de lesões hepáticas em ratos.
















Animais recebendo aplicações de eletroacupuntura: cada ponto de aplicação é bilateral

“O fígado é responsável pelo processo de metabolização de medicações. Algumas pessoas tomam medicamentos continuamente e isso causa danos ao funcionamento do órgão. Este trabalho comprovou que a acupuntura pode ser usada para reduzir os prejuízos causados pelo uso contínuo de medicamentos agressivos para o fígado”, aponta.

Os animais que passaram por sessões de eletroacupuntura no ponto E36 (localizado na perna, próximo ao joelho) ou no BP6 (próximo ao calcanhar) apresentaram diminuição de lesões hepáticas. Na comparação entre esses dois grupos, a progressões das lesões foi menor nos ratos que receberam estímulo no ponto E36. “Na eletroacupuntura, as agulhas são conectadas a fios. Esses fios são ligados a uma máquina que envia um estímulo padronizado e contínuo para as agulhas”, explica o pesquisador.

O veterinário induziu as lesões hepáticas por meio da tioacetamida, substância já usada no passado como agrotóxico em lavouras. Atualmente ela é utilizada nas indústrias de couro, têxtil e de papel. No meio acadêmico, esta droga é usada por pesquisadores em modelos científicos de indução de lesões no fígado.

O experimento
O veterinário explica que existem vários graus de lesões no fígado: inicialmente, após repetidas agressões hepáticas, ocorre uma fibrose que, se não tratada, evolui até chegar à cirrose. Esta pode originar neoplasias hepáticas (câncer). “Sabemos que o fígado tem grande capacidade de recuperação, mas somente até um certo grau das lesões hepáticas”, explica.

Rodrigues trabalhou com 70 ratos wistar. Antes de iniciar o experimento, o médico colheu amostras de sangue onde avaliou oito marcadores sanguíneos ligados a lesões hepáticas. A dose de tioacetamina aplicada variou de acordo com o peso de cada animal.
















Caixa de indução anestésica: pesquisador adaptou objetos para anestesiar vários animais ao mesmo tempo

Para poder aplicar as sessões de eletroacupuntura, o veterinário optou por usar o anestésico isofluorano, por via inalatória.“A maioria dos anestésicos comuns interfere de forma significativa na função hepática, e isso poderia prejudicar os resultados”, conta. A dose usada foi a necessária para manter os animais em semiconsciência. “Quando a agulha da acupuntura é inserida na pele, ela causa um estímulo que percorre via nervosas do corpo chegando até a medula óssea. Através da medula, a informação chega no cérebro, onde neurotransmissores se encarregam de emitir respostas que são transmitidas e agem em um determinado local do corpo. Se os animais ficassem totalmente sedados esse fato também poderia interferir nos resultados”, completa.

Os animais foram divididos em 7 grupos: sadios (que não passaram por nenhum tipo de intervenção); controle para tioacetamida (aplicação apenas desta droga); controle para isofluorano (aplicação apenas deste anestésico); um grupo com aplicação de eletroacupuntura no pontos E36 (localizado na perna, próximo ao joelho) e outro no BP6 (próximo ao calcanhar). Os dois grupos restantes, E36s e BP6s, receberam aplicações em pontos “falsos”, ou seja, em lugares próximos aos pontos verdadeiros (E36 e BP6), mas que não resultariam em nenhum efeito ligado a proteção hepática.

Após a pesagem e a aplicação da tioacetamida, os animais eram sedados e, em seguida, recebiam as aplicações de eletroacupuntura durante 20 minutos. Na quarta semana do experimento, o pesquisador aumentou todas as doses de tioacetamida em 10%. Ao final das sete semanas, o médico colheu novas amostras sanguíneas para avaliar os oito marcadores.

Resultados
Todos os animais que receberam doses de tioacetamida apresentaram lesões no fígado. Mas nos grupos sem uso de eletroacupuntura, as lesões hepáticas eram muito maiores. “Percebemos que no grupo controle para tioacetamida ocorreram danos consideráveis no fígado. Também encontramos muitas alterações ligadas aos oito marcadores de lesões hepáticas”, conta o pesquisador. “Já no grupo controle para isofluorano, também constatamos que o fígado apresentava lesões, apesar de este anestésico ser considerado seguro contra ocorrência de danos hepaticos”, aponta.















As lesões hepáticas eram muito maiores nos animais que não passaram por eletroacupuntura

Rodrigues lembra que a hepatite C atinge de 2,5 a 4,9% da população brasileira. Já a cirrose hepática está entre as 10 maiores causas de morte no mundo ocidental. Não existe tratamento para estes casos, sendo que a única opção é fazer um transplante de fígado. “Pense em alguém que precise tomar, diariamente, um medicamento que cause uma reação muito forte no fígado. O órgão seria afetado mesmo se estivesse em condições normais. Agora imagine se esta pessoa já estiver com o fígado comprometido devido à hepatite C ou à cirrose”, questiona o pesquisador. “A acupuntura poderia ser usada como uma maneira de barrar grande parte dos danos ao fígado provocados pelo medicamento.”

A pesquisa de Rodrigues A influência dos pontos de acupuntura Zusanli (E36) e Sanyinjiao (BP6) no desenvolvimento de lesões hepáticas induzidas por Tioacetamida, em ratos Wistar, foi apresentada no último mês de dezembro. O professor Francisco Javier Hernandez Blazquez, da FMVZ, foi o orientador do trabalho. A professora Ângela M.F. Tabosa, do Setor de Medicina Chinesa e Acupuntura do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), foi co-orientadora do estudo.

Imagens cedidas pelo pesquisador

Mais informações: (11) 7040-3434 ou email alexsantos@usp.br, com o pesquisador Alexandro dos Santos Rodrigues

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