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quarta-feira, 11 de agosto de 2010

NOTÍCIA: Dieta pobre em proteína compromete a função digestiva

Estudo aponta que deficiência proteica causa atrofia e redução dos neurônios de gânglio celíaco

Pesquisadores da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ-USP) comprovaram que uma dieta pobre em proteína provoca a atrofia e a redução dos neurônios do gânglio celíaco – parte do sistema nervoso simpático que inerva os neurônios da parede do intestino delgado responsáveis pelos movimentos peristálticos e pelo controle da absorção de nutrientes. Os neurônios de gânglio celíaco são fundamentais para o sistema digestório, pois controlam o funcionamento do intestino delgado.

Coordenado pelo estereologista Antonio Augusto Coppi, do Laboratório de Estereologia Estocástica e Anatomia Química (LSSCA) do Departamento de Cirurgia da FMVZ-USP, o estudo constatou que, além da atrofia, a falta de proteína na alimentação é responsável pela morte dessas células nervosas. “Os resultados mostraram que 78% do gânglio celíaco e 24% de seus neurônios sofreram atrofia, mas o número mais impactante refere-se à porcentagem de perda de células nervosas, que totalizou 63%. Este dado inédito comprova que, diferentemente do que era divulgado em experimentos anteriores, a falta de proteína pode causar danos à saúde”, explica o pesquisador.

Com o estudo ficou confirmado que a dieta hipoproteica afeta o citoesqueleto dessas células – que têm proteína em sua composição – causando atrofia e/ou morte das mesmas. Neste caso, o organismo trabalha para sua reposição gerando neuroblastos (células imaturas) que não têm a competência funcional de uma célula nervosa madura. Os animais com deficiência proteica na dieta perderam massa corpórea e se tornaram desidratados, caquéticos e sem condições de permanecer em pé. Segundo Antonio Augusto Coppi, há possibilidade de que a dieta hipoproteica possa causar danos no sistema nervoso central provocando, por exemplo, distúrbios de natureza cognitiva, como dislexia e perda de memória.

A descoberta só foi possível graças ao método utilizado no estudo, a Estereologia Estocástica, ciência que permite analisar as imagens e partículas em 3D (comprimento, largura e profundidade) e até 4D, que inclui tempo. Outros trabalhos publicados previamente na literatura médica utilizaram o mesmo protocolo de desnutrição, mas possuíam apenas abordagem bidimensional, o que não permitia mensurar o volume da célula nem estimar o número total das mesmas, o que gerou conclusões erradas sobre a desnutrição. “Nosso estudo serve também de alerta sobre a escolha do método de contagem utilizado em Biologia. O uso de técnicas não aprimoradas pode conduzir os pesquisadores a interpretações errôneas e conclusões desastrosas”, adverte.


Tese de mestrado

O estudo, que faz parte da dissertação de mestrado do médico veterinário Sílvio Pires Gomes, usou 10 ratas Wistar. Destas, cinco receberam uma dieta com 5% de proteína e as outras cinco foram alimentadas com dieta normal com 20% de proteína. O experimento foi feito durante o período de gestação das fêmeas (21 dias) e durante o período pós-natal (21 dias). Os filhotes, ao nascerem, continuaram recebendo as mesmas dietas (5% e 20% de proteína de acordo com o grupo de estudo) e foram eutanasiados no 21º dia.

O estereologista da FMVZ-USP Antonio Augusto Coppi revela que, para dar continuidade ao trabalho, o grupo está desenvolvendo um novo experimento, que fará parte da tese de doutorado de Sílvio Pires Gomes. Na nova pesquisa, o grupo de animais alimentado com dieta pobre em proteína voltará a ser alimentado com dieta normal, para verificar se é possível reverter os prejuízos à saúde. O estudo é desenvolvido no Brasil com a colaboração da Universidade de Liverpool, da Inglaterra, e deve ser concluído em 2011.

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