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terça-feira, 17 de agosto de 2010

NOTÍCIA: FMVZ pesquisa pinguins que chegaram mortos ao litoral paulista

Mariana Midori Isagawa / USP Online
e-mail: mariana.isagawa@usp.br

Fonte: Agência USP de Notícias

A chegada de muitos animais marinhos às praias paulistas em único final de semana, nos dias 17 e 18 de julho, assustou a população local e a comunidade científica: entre golfinhos e aves oceânicas, como os pinguins, mais de 500 pinguins foram encontrados, a maioria deles mortos. Segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o evento era “normal”; porém mais exames seriam realizados para determinar as causas das mortes. A USP recebeu parte dos pinguins encontrados, que agora passam por análises no Laboratório de Patologia Comparada de Animais Silvestres da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ).

Duas características destes pinguins se destacaram: a extrema magreza e a grande quantidade de parasitas encontrados em seus corpos. “Ainda não sabemos ao certo qual é a causa das mortes, mas eliminamos algumas possibilidades, e estes dois fatores foram os que mais chamaram a nossa atenção”, afirma Ralph Vanstreels, doutorando da FMVZ que, juntamente com a também doutoranda Claudia Niemeyer, integra uma equipe de pesquisa sobre doenças de pinguins sob a coordenação do professor José Luiz Catão. Entre as possíveis causas de morte já descartadas estão a contaminação por petróleo, a ação de redes de pesca e, até o momento, uma intoxicação por contaminantes ambientais.

Foram detectados parasitas como piolhos, nematóides de estômago e esôfago e acantocéfalos, trematóides e cestóides no intestino. “É comum encontrarmos parasitas em animais selvagens, mas não nessa quantidade”, afirma Vanstreels. “Agora queremos saber se foram os parasitas que debilitaram os animais e fizeram com que eles parassem de comer ou se foi a falta de comida, seguida pela baixa imunidade, a responsável pela infestação de parasitas".

Segundo o doutorando, a pesquisa segue com muitas possibilidades a serem analisadas. A falta de comida, por exemplo, poderia ter sido causada pela pesca excessiva ou por fatores climáticos. Por outro lado, também é preciso estudar se houve algum tipo de alteração na interação entre o pinguim e seus parasitas, se há novas espécies de parasitas ou alguma anomalia no sistema imune dos pingüins. Em busca de respostas detalhadas, os pesquisadores continuam realizando diversos exames, cujos resultados serão obtidos ao longo dos próximos meses.

Normalidade
“É normal que os pinguins migrem nessa época do ano, e ainda que muitos deles morram neste trajeto. A chegada de uma frente fria, depois de três semanas de tempo bom, fez com que a maré os arrastasse para a praia de uma só vez. Muitos deles já estavam mortos há bastante tempo”, explica Vanstreels sobre a declaração do Ibama. Ele coloca, porém, que dois conceitos, utilizados à exaustão pela mídia, talvez tenham sido pouco explicados: frente fria e La Niña.

Enquanto a frente fria foi responsável pela chegada repentina das carcaças de animais marinhos, o La Niña é um fenômeno climático que os cientistas consideram ser uma possível causa da falta de alimento para os pinguins, pois o resfriamento das águas do Pacífico levaria à dificuldade de reprodução dos peixes. A teoria ainda não foi confirmada, mas pode justificar o grande número de pingüins que chegou ao Brasil em 2008, quando aproximadamente 5.000 animais alcançaram as praias brasileiras, até o litoral do nordeste. “No Peru, essa teoria foi bem explicada, mas segundo a dinâmica e peculiaridades do local: o El Niño esquenta as águas do Pacífico e é responsável pela dificuldade de reprodução dos peixes locais. Aqui, estamos começando a estudar essa teoria agora. Precisaríamos de mais uns 10 anos de La Niña para descrever o fenômeno”. Vanstreels também explica que o fenômeno se repete este ano, porém com muito menos intensidade.

A “normalidade” do evento ainda pode ser contestada. Em 2010 chegaram – e continuam chegando – mais pinguins do que a média de outros anos, entre 200 e 500. Neste ano, além dos 500 encontrados no final de semana, ao menos 800 foram encontrados no Rio Grande do Sul. A morte de tantos ainda pode ser considerada “anormal”, ainda mais nas dadas condições (de fome e doença).

Meio ambiente
As pesquisas sobre pinguins desenvolvidas no Laboratório de Patologia Comparada de Animais Silvestre ainda têm como objetivo usar as doenças como indicadores do estado de conservação do mar. Segundo Vanstreels, “é um jeito indireto de saber como está o mar, e se as ações humanas – petróleo, pesticida, indústria, pesca - estão afetando ou não os animais”.

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