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segunda-feira, 9 de agosto de 2010

NOTÍCIA: Móbiles de pneus diminuem estresse de leitões desmamados

Por Valéria Dias
Fonte: Agência USP de Notícias

Leitões desmamados expostos a um ambiente com pneus presos a correntes penduradas no teto — como móbiles — apresentaram um nível de estresse inferior quando comparados a animais sem contato com os objetos. Estes dados fazem parte da pesquisa de mestrado da médica veterinária Juliana de Vazzi Pinheiro, apresentada em dezembro de 2009 no Departamento de Nutrição e Produção Animal (VNP) da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP, em Pirassununga.

Outro dado interessante do trabalho é que esses pneus eram limpos diariamente: em um outro grupo, de leitões expostos a pneus não lavados, também houve redução de estresse, mas em um nível inferior. “Sabemos que os suínos gostam de se esfregar na lama. Mas, este estudo mostrou que, diante do acúmulo de sujeira ou fezes, os leitões ficavam estressados”, destaca a professora Maria de Fátima Martins, orientadora do trabalho.










Os “móbiles” funcionaram como um brinquedo, um recurso para distrair os leitões

A professora explica que o desmame de leitões, que ocorre aos 21 dias de vida, causa muito estresse nos animais. É comum a ocorrência de canibalismo (eles mordem o rabo uns dos outros), de estereotipias (batem ou balançam a cabeça continuamente, tentam comer o chão e as paredes, etc) ou ainda de diarréia. “Estes são alguns sintomas de estresse. É a chamada angústia da separação. O animal perde peso e, consequentemente, ocorrem perdas econômicas para o produtor”, relata.




Filmagem 24 horas por dia, durante 21 dias





Segundo Maria de Fátima, os pneus foram usados como enriquecimento ambiental. “Trata-se de uma estratégia focada no bem-estar animal, com a finalidade de proporcionar condições mais humanitárias aos leitões”, explica.

A pesquisa envolveu 9 leitegas — cada leitegada é composta por 9 a 15 leitões nascidos de um mesmo parto. Ao serem desmamados, aos 21 dias de vida, os animais foram colocados em baias. Foram aplicados três tratamentos: animais com acesso a um pneu que era lavado diariamente, leitões expostos a um pneu não lavado, e o grupo controle, que não recebeu nenhum tipo de enriquecimento ambiental. Os leitões foram filmados 24 horas por dia, durante 21 dias. Eles foram marcados com tinta bastão (para diferenciar um do outro) e as baias tinham controle de temperatura e umidade, variáveis que podem interferir no comportamento.

Na pesquisa, os “móbiles” funcionaram como um brinquedo, um recurso para distrair os leitões e reduzir o nível de estresse: os animais mordiam, subiam nos pneus, etc. A professora acredita que os leitões com acesso ao pneu lavado diariamente tiveram um menor nível de estresse quando comparado aos outros grupos, pois viam o móbile como uma novidade, como se fosse um novo objeto colocado no local. “Alguns estudos mostram que as crianças que têm móbiles em seus berços são mais calmas”, aponta.

Pré-iniciação científica
Segundo Maria de Fátima, um dos resultados positivos da pesquisa foi a participação de alunos do Programa de Pré-Iniciação Científica da USP , realizado em 2009. Denis Claus Oliveira, que cursava o 3º ano do ensino médio da Escola Estadual Professora Terezinha Rodrigues, e Cristiane Franchini, então no 2º ano do Colégio John Kennedy, ambos em Pirassununga, acompanharam a pesquisa de Juliana Pinheiro. O resultado foi o desenvolvimento do projeto “Entendo a importância de uma tese de mestrado em bem estar animal de suínos após a desmama”. Este trabalho ficou em 3º lugar na área de Ciências Agrárias na premiação do Programa, que ocorreu em São Paulo, em 19 de outubro de 2009. A dupla foi premiada com um laptop, e Cristiane abriu mão de sua parte no prêmio.




Pôster premiado no Programa de Pré-iniciação científica da USP







“Quando estava acompanhando o projeto da Juliana, vi que estudar na universidade era algo possível. Conheci alunos da USP que tinham estudado em escola pública”, conta Denis Oliveira, que trabalhou — e ainda trabalha — como auxiliar de escritório. Atualmente, ele cursa o segundo semestre de História no Centro Universitário Edmilson Ulson (Unar), em Araras, interior de São Paulo. Oliveira destaca como ponto positivo na participação do programa o fato de se sentir mais seguro em relação ao Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), que deverá fazer na finalização da graduação. “Como eu já participei da elaboração e da apresentação de um projeto científico, me sinto mais à vontade, em relação aos meus colegas de classe, que não passaram por este tipo de experiência”, conta.

Para Cristiane, que atualmente cursa o terceiro ano do ensino médio, “o conhecimento adquirido e a experiência de acompanhar a elaboração de uma tese de mestrado foram os principais pontos positivos do programa.” Ela conta que decidiu participar do projeto por achar o assunto interessante. “Gosto de observar o comportamento dos animas”, afirma a estudante, que pretende prestar vestibular para Psicologia na USP ou na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

Os alunos ressaltam que as professoras Maria de Fátima Martins e Tânia Caramigo — coordenadora pedagógica da Escola Estadual Professora Terezinha Rodrigues e que ajudou a orientar o projeto de pré-iniciação científica — desempenharam um papel muito importante, pois ajudaram durante todo o processo de elaboração do trabalho.

Imagens cedidas pela professora Maria de Fátima e por Denis Oliveira


Mais informações: (19) 9120-9642 ou fmartins@usp.br, com a professora Maria de Fátima Martins


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