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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Embrapa avança nas técnicas de clonagem animal

fonte: Globo Rural

21.11.2010

Fazer um clone de animal campeão deixou de ser um sonho na pecuária bovina. A técnica avançou muito nos últimos dez anos e já apresenta resultados concretos. Você vai ver o que está sendo feito pela Embrapa em Brasília e o trabalho de criadores em vários estados.
Quarenta minutos de preparação, uma cesária e mais um bezerro vem ao mundo. Ele recebe uma atenção especial porque não é um bezerro como os outros, é um clone. Nasceu no hospital veterinário da Universidade Norte do Paraná, perto de Londrina.

Vídeo

O nascimento de clones como esse vem se tornando mais frequente nos laboratórios de empresas particulares e de universidades. No Brasil, um dos primeiros trabalhos nesse sentido foi realizado pela Embrapa.

É na Fazenda Sucupira, a 30 quilômetros de Brasília, que a Embrapa Recursos Genéticos desenvolve as suas pesquisas. Lá são criadas três vacas clones e seus doze descendentes.

Vitória, a pioneira, é o primeiro clone da América Latina. Ela é uma vaca da raça simental, que está com quase dez anos de idade.  Foi  resultado da clonagem de células embrionárias de outra vaca.

Em seguida, a Embrapa decidiu fazer uma experiência mais ousada, a clonagem de células de uma vaca holandesa que já tinha morrido. Assim, nasceu Lenda, que hoje é bisavó.

A prova de que tudo corre bem por aqui é que já estamos na quarta geração da mesma família de um clone. A Lenda, resultado da segunda clonagem da Embrapa, nasceu em 2004, ela é mãe da Fábula, que é mãe da Fada, que, em junho, pariu a Princesa.

A filha, a neta e a bisneta de Lenda não são clones. Elas são resultado dos processos de inseminação artificial, fecundação e transferência de embriões.

A técnica da clonagem evoluiu bastante nos últimos dez anos. O veterinário Maurício Franco da Embrapa mostra como se inicia todo o processo. A primeira fase é retirar um pedaço da pele do animal que será clonado. Depois de uma boa limpeza, a vaca recebe uma anestesia local.

O veterinário explica porque na Embrapa, a preferência hoje é retirar a pele da parte que fica embaixo do rabo do animal. “É uma região que não toma sol e isso é importante para o clonagem né, evita de pegar uma célula que tem o genoma ou o DNA que possa ter sofrido alguma mutação por causa da radiação solar”, diz.

Depois da cirurgia, o veterinário faz a sutura e passa uma pomada cicatrizante.  O animal é liberado em seguida e pode levar vida normal. É só tirar os pontos uma semana depois. O  pedaço de pele é guardado num recipiente e levado para outra sala, onde é esterilizado.

Começa então a etapa do trabalho chamada de "transferência nuclear". Eles utilizam uma célula retirada do ovário de outra vaca.  Com o auxílio de uma pipeta, é retirado o nucleo dessa célula. No lugar dele, é introduzido o núcleo de uma célula tirada da pele da vaca que está sendo clonada. O núcleo é que contém o código genético. Essa estrutura é levada então a um aparelho para receber impulsos elétricos que provocam a incorporação do novo núcleo à célula. Reprogramada, ela se multiplica sozinha e, dentro de sete dias, forma um embrião, que é transferido para uma vaca "barriga de aluguel".

Apesar dos avanços conseguidos até agora, o aproveitamento da técnica é pequeno, como explica o veterinário Maurício Franco. "É muito variável entre os laboratórios, mas a gente pode dizer que em torno de 5% de nascimentos viáveis. O principal motivo de perdas na clonagem é porque o óvulo não conhece direito o DNA da célula que ele recebeu lá dentro. Esse DNA precisa ser desprogramado para formar um novo embrião e esse óvulo não faz isso direito. Porque isso não é muito natural para ele".

Quando a gestação dá certo o resultado é gratificante. Na Fazenda da Embrapa, os clones estão seguindo uma vida normal. Porã, um clone da raça junqueira, por exemplo, já teve um filhote pelos métodos tradicionais.

Já existem no Brasil laboratórios particulares produzindo cópias de animais campeões por encomenda dos criadores. Foi o que vimos em Uberaba, com a repórter Akemí Duarte.

A Fazenda Monte Verde, no município de Uberaba, vem se dedicando há  alguns anos ao desenvolvimento da genética bovina. O criador Felipe Picciani, tem hoje duas vacas clones, que são cópias da campeã Bilara Sete.

“Ela estava começando a envelhecer e nós percebemos que, com o clone, teríamos a oportunidade de preservar essa genética por mais anos", diz. As clones são identificadas nas pernas, com a marcação TN1 e TN2. Isso quer dizer, transferência nuclear um e dois.

Um animal clonado tem a mesma genética da matriz. Mas, ele pode sofrer modificações ao longo da vida na sua forma física de acordo com as condições em que é criado. Em outras palavras, o DNA é o mesmo, mas a aparência do animal pode sofrer alterações de acordo com o meio ambiente.

Essa técnica hoje está mais acessível para o criador. “Um clone custa mais ou menos hoje a metade do que custava faz cinco anos e corresponde a, mais ou menos, dez prenhezes pelas técnicas convencionais", declara.

No Rio Grande do Sul, a repórter Patrícia Cavalheiro visitou a Cabanha da Maya, no município de Bagé. A principal renda da estância vem da genética, da criação de matrizes e reprodutores. A clonagem entrou na história da fazenda com uma vaca jersey importada dos Estados Unidos. Quando foi para a fazenda, em 2001, ela já tinha conquistado vários prêmios.

Essa vaca matriz importada dos Estados Unidos teve uma importância tão grande para a história da Cabanha que, quando ela morreu, em 2007, com dez anos de vida, foi enterrada na entrada da fazenda. "Era um animal que cativava muito, os tratadores, o pessoal que auxilia na limpeza. Era um animal muito dócil, muito querido. Pra nós, foi uma tristeza muito grande aquele momento", conta.

Francisco conta que, pra fazer a clonagem, foi retirado material da  vaca antes dela morrer. Foram obtidos dois clones: "São dois produtos na verdade, a gente até se confunde um pouco. Na verdade são dois eu. Não são duas irmãs", comenta.

E revela quanto custou o negócio. "Em torno de cinquenta mil, a primeira cópia, como a gente chama. Depois, tem as outras cópias. Aí dá pra negociar o preço, né? A segunda pode sair mais barato”, diz.

As duas cópias estão hoje com dois anos de idade. Elas foram os primeiros clones registrados na Associação Brasileira dos Criadores de Gado Jersey e no ministério da agricultura.  Seus nomes:  "Excelência 1" e "Excelência 2". As duas estão prenhas.

A proprietária da Cabanha da Maya é a pecuarista Zuleika Torrealba. “Eu acho que o clone tem um futuro muito grande. Acho que, depois que o clone se transformar numa coisa mais acessível, não digo para o grande abate, mas disponibilizar matrizes de touros e vacas pra você usar isso nos grandes rebanhos", comenta.

Segundo as Associações de Criadores, existem atualmente 45 clones registrados no Brasil. São 35 da raça nelore, dois gir, sete da raça jersey e um clone angus.

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