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sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Seminário discute o desempenho dos periódicos brasileiros no JCR 2009

Fonte: Newsletter BVS 30/11/2010

Aconteceu no dia 10 de setembro de 2010, na cidade de São Paulo, o "Seminário sobre o desempenho dos periódicos brasileiros no JCR 2009" - agenda online, organizado pela SciELO (Scientific Electronic Library Online), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Fundação de Apoio à Universidade Federal de São Paulo (FAP/Unifesp), BIREME/OPAS/OMS e Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP/USP).

Realizado no auditório João Yunes da FSP/USP, o evento contou com cerca de 250 participantes, de editores de periódicos científicos em todas as áreas do conhecimento, a especialistas em comunicação científica, cienciometria, além de profissionais de outras áreas relacionadas. O seminário foi motivado pelos resultados publicados em 17 de junho de 2010 pela Thomson Reuters, no índice bibliométrico Journal Citation Reports (JCR) versão 2009, uma das referências internacionais para a medida do desempenho de periódicos científicos*.

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*O “Fator de Impacto 2009” significa o total de citações obtidas em 2009 por autores que publicaram seus artigos entre 2007 e 2008, dividido pelo número total de artigos publicados no mesmo período.
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A região da América Latina e Caribe (AL&C) aumentou 110% sua presença no JCR em relação aos periódicos indexados em 2008, sendo que 14 títulos alcançaram Fator de Impacto (FI) maior que 1. Do total de 162 periódicos da região no JCR, 52% são publicados online em acesso aberto nas coleções nacionais SciELO. Esta porcentagem cresce para 80% no caso do Brasil (veja matéria relacionada). Assim, o debate sobre as características e consequências que emergem deste novo contexto foi o foco do seminário.

Na abertura do evento, Helena Ribeiro, diretora da FSP/USP, destacou a importância da discussão proposta pelo evento e disse ser também uma oportunidade para a faculdade. Na sequência, Abel Packer, assessor de Informação e Comunicação em Ciência da FapUnifesp, contextualizou os objetivos do evento e iniciou a apresentação sobre a rede SciELO e os periódicos brasileiros no JCR 2009.

Como pontos em comum, os participantes, especialmente editores, destacaram que o aprimoramento dos periódicos é condição fundamental para aumento do impacto. Para isso, a participação na coleção SciELO foi um aspecto também ressaltado como tendo contribuído para a melhoria da qualidade e consequente crescimento em FI. O representante da Revista de Saúde Pública destacou que a visibilidade em acesso aberto estimulou o aperfeiçoamento da revista que participou de forma pioneira na criação da coleção SciELO Brasil e também de iniciativas como publicação ahead of print e press releases no âmbito da SciELO. “A melhoria da qualidade resultou em crescimento acelerado do FI”, disse o editor à frente do periódico com o FI 1.006.

A maior visibilidade dos periódicos e, como consequência, o aumento de artigos submetidos também foi uma questão apontada pelos editores. Medidas para aumentar a rejeição foram exemplificadas como a pré-análise e ampliação do corpo editorial, no caso da Memórias do Instituto Oswaldo Cruz.

Um aspecto também fortemente ressaltado pelos editores foi a questão da sustentabilidade dos periódicos e a necessidade de apoio governamental na forma de maiores recursos para as revistas que muitas vezes dependem da estabilidade financeira das instituições de ensino ou associações às quais estão ligadas. Além disso, o maior volume de ciência no Brasil e as consequências como comportamento antiético, dificuldade de avaliação dos periódicos exige, na visão dos editores, maior rigor dos órgãos de controle e também qualidade na formação dos comitês avaliadores.

Convidado para fazer os comentários sobre o painel "Diálogo entre Editores", Lewis Joel Green, editor do Brazilian Journal of Medical and Biological Research, ressaltou a importância de agilizar o processo de publicação para os autores com a contribuição da SciELO relatada por editores na sessão. Disse ainda que o seminário abordou “problemas reais da publicação no terceiro mundo e sem as revistas brasileiras não podemos desenvolver ciências e tecnologia. Não é altruísmo do governo, é necessidade”.

Palestras iniciais contextualizam a posição do Brasil no JCR 2009

Em sua apresentação, Abel Packer abordou principalmente a coleção brasileira de periódicos na rede SciELO - 203 revistas do total de 623 das demais coleções em 2009 - e o quanto vem crescendo em número de títulos e também em FI desde sua criação em 1997. Segundo o coordenador, a média de aumento do FI dos periódicos nacionais entre 2000 e 2009 é de 220%.

Packer destacou que em 2005, apenas um dos 19 títulos indexados pelo JCR possuía FI maior que 1. Em 2009, subiu para 12 títulos com FI maior que 1 do total de 71 títulos indexados no JCR (houve expansão dos critérios de seleção de periódicos na Web of Science - WoS, pela Thomson Reuters, em 2008 - veja matéria).

Na análise do coordenador, a contribuição das revistas SciELO na coleção WoS é grande. Entre os 15 periódicos da coleção SciELO Brasil com maior fator de impacto, 10 estão no JCR. “Quanto mais periódicos colocarmos lá [na SciELO], melhor vai funcionar. Parte deste desempenho se deve também à contribuição da SciELO e essa estratégia passa também pelo desenvolvimento e fortalecimento das coleções da rede”, disse.


Rogerio Meneghini, coordenador científico do Projeto SciELO/FapUnifesp, destacou a participação do Brasil na WoS que indexa autores, artigos, afiliações e periódicos, diferentemente do JCR, que indexa exclusivamente periódicos e enfatizou a importância do fortalecimento das revistas nacionais. “Minha percepção em 45 anos de ciência é de que o Brasil aprendeu o caminho de ciclo de fazer ciência. No entanto, a publicação tem sido concentrada em periódicos internacionais, o que é bom, mas os nacionais ficaram em segundo plano”, disse ao iniciar sua apresentação.

Além de destacar o crescimento da presença brasileira na WoS - o país ocupa 15ª posição no ranking mundial de periódicos por país na WoS com 124 títulos - Meneghini sublinhou também que é maior o FI de autores nacionais quando publicam seus trabalhos em periódicos internacionais - FI médio de 1,6 dos mais de 42 mil artigos em periódicos estrangeiros, comparado ao FI médio de 0,5 dos nacionais.

Ele alertou que não se deve usar o FI como medidor direto da qualidade e relevância, mas sim efetivamente para impacto. Apesar disso, deve-se considerar que um número significativo de estudos mostra correlação entre FI e opinião dos pares, quanto a sua validade para mensuração de qualidade em vários níveis, segundo Meneghini. “A correlação varia em torno de 60%. Um número que deve ser respeitado”.

Em seguida, Mauricio Rocha e Silva, editor do periódico Clinics, direcionou sua apresentação para as complexidades relacionadas ao FI que é “um mau caráter, com quem nenhum editor que se respeita deseja ser visto em público, mas sem o qual nenhum editor pode viver feliz na vida privada”, disse descontraindo os participantes do seminário.

Comparando os índices FI e Scimago Journal Rank (SJR), afirmou que possuem forte correlação, fazem a mesma medição, portanto, podem ser usados indiscriminadamente. O índice SJR está disponível em uma base em acesso aberto, enquanto o acesso ao FI do JCR se dá por meio de assinatura. Sobre o FI SciELO, há que se considerar que o número total de periódicos na base de dados onde são contadas as citações é inferior a mil, portanto subestima seu real valor, segundo o editor.

Em sua visão sobre como melhorar o FI de revistas, afirma que qualidade e não quantidade é o que realmente importa, considerando que um artigo de alto impacto pode impulsionar o maior crescimento do FI em oposição à inclusão de muitos artigos - o que, de fato, pode reduzir o impacto do periódico.

Assim como chamaram a atenção Packer e Meneghini em suas apresentações, Silva comentou o progresso do Brasil no JCR, “muito disso devido a ação da Capes e da SciELO”, destacando que há espaço para maior crescimento, mas alertando para a questão das autocitações.

A Revista Brasileira de Farmacognosia, por exemplo, é a primeira do ranking de maior FI (3,46) sendo que 90% deste valor corresponde a autocitação. No entanto, se todos os periódicos brasileiros mais bem ranqueados em FI gerassem este mesmo percentual de autocitações, “levariam cartão amarelo e depois vermelho”, comentou Silva sobre a possibilidade de sanções da Thomson Reuters até a supressão dos periódicos dos índices da empresa.

Em sua apresentação, Mauricio Rocha e Silva também afirmou a necessidade de aprimoramento do sistema utilizado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o Qualis Periódicos, que avalia a qualidade da produção intelectual dos programas de pós-graduação disponibilizando uma lista dos periódicos utilizados para a divulgação da produção científica. Chamados pelo editor de “Três Rs”, as medidas seriam: remover periódicos que publicam majoritariamente artigos de revisão porque representam 20% dos títulos com FI maior 5,5; reconhecer a existência do SJR por sua paridade com os índices da Thomson Reuters/ISI e, no entanto, sua exclusão, também deixa mais de 100 revistas brasileiras de fora, e ainda o reconhecimento da SciELO, que apesar de medir um FI menor que a Thomson Reuters/ISI ou SJR, refere-se a uma base que contém mais de 200 periódicos brasileiros; e, por último, a revalorização das revistas brasileiras incluindo uma promoção de um a dois estratos na tabela Qualis 2012, a exemplo do que já foi feito com periódicos das áreas de Ciências Biológicas e Química.

“A proteção dos periódicos é condição sine qua non para que estes continuem sua rota de crescimento. Bons periódicos são imprescindíveis para a ciência brasileira. Não valorizá-los é ser antipatriótico”, finalizou.

Diálogo entre editores

O painel “Diálogo entre editores” contou com Alexander Wilhelm Armin Kellner, da Anais da Academia Brasileira de Ciências, Ivan França Jr, da Revista de Saúde Pública, Luís Reynaldo Ferracciú Alleoni, da Scientia Agrícola, Mauricio Rocha e Silva, da Clinics, e Ricardo Lourenço de Oliveira, da Memórias do Instituto Oswaldo Cruz. A participação de Charles Pessanha, editor do periódico Dados, se deu a partir da plateia devido a impossibilidade de confirmação prévia sobre a participação no evento.

Em suas apresentações, cada editor sumarizou a situação atual de seus respectivos periódicos levantando também questões para discussão que abordaram a qualidade, visibilidade e também sustentabilidade financeira dos periódicos.

Escrito por: BIREME/OPAS/OMS
22.11.2010 16:46:48 h
Atualizado por: BIREME/OPAS/OMS
22.11.2010 16:53:00 h

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